UM GIGANTE EM NOSSO MEIO – Autor: JESUS FONSECA
Parabéns a esta Jovem que chegou ao Vale do Piancó, há 36 anos, trazendo na bagagem, o AMOR, a ESPERANÇA, a Salvação e Redenção de muitas famílias que viviam aflitas, em desespero, vendo seus entes queridos sucumbirem sem esperança alguma, sem nenhuma perspectiva de retorno ao convívio familiar. Refiro-me a esta gigante Instituição intitulada de Alcoólicos Anônimos – AA, que luta bravamente em defesa dos mais desprotegidos da sorte, os filhos do vício, e o que é mais sublime, sem visar lucros, sem interesses maiores, a não ser a redenção de um Ser Humano.
Eu sei do que estou falando, pois já senti na pele, juntamente com minha Família, as agruras, os transtornos que esta doença causa no seio de um Lar. Nós somos uma irmandade muito unida porque assim nos criou nossos Pais, “Seu” Totinha e Dona Dazinha, principalmente Ela que ficou viúva muito cedo e chamou para si a responsabilidade de ser Pai e Mãe ao mesmo tempo, não medindo esforços em nos unir fraternalmente e nos educar. Assim, a alegria, a felicidade de um é a de todos Nós, igualmente, sua infelicidade, seu sofrimento, é repartido a Nós todos. Dentro deste parâmetro, passamos a sofrer quando dois de Nós foram contaminados pelo germe do álcool. Sabíamos, porque os conhecíamos, que eram pessoas inteligentes, responsáveis, amigos, queridos em nosso meio, mas que de uma hora para outra sofriam uma bruta transformação quando acometidos desse triste MAL, o alcoolismo.
Pois bem, inteligentes como eram e como são, sabiam que teriam de sair do vício e, não sei se a convite de alguém, se por iniciativa própria, ou se pelas rezas de Dona Dazinha ou se pelas três coisas juntas, encontraram a AA pelo caminho, na época ainda AAA. Lá a Associação, paulatinamente, foi lhes devolvendo a confiança, a mola mestra de que tanto necessitavam para pegarem o caminho de volta. Há quase 30 anos nossos queridos irmãos Edmilson e João Dehon Fonseca colheram a semente da sobriedade e voltaram brilhantes ao seio de nosso Lar.
Sentindo o benefício que alcançara, João Dehon partiu pelo Brasil afora plantando mudas e mais mudas desta Árvore Preciosa, a AA. Nunca mediu esforços em ajudar a quem necessitava, nesta jornada sublime de salvar seres humanos, roubando-lhes este vício maldito e corrosivo, fruto da degenerescência humana, e dando-lhes novo alento. Temos mais que nos congratularmos com os dois, não só pela conscientização do mal de que são possuidores, mas muito mais pelo exemplo de força de vontade que dão àqueles que ainda se sentem fracos na difícil caminhada de recuperação.
É do conhecimento de todos e já devidamente comprovado que a violência no País, principalmente no trânsito, é causada pela ingestão de álcool por parte de motoristas, geralmente com vítimas fatais. Por outro lado, o índice de morte através de armas de fogo ou de qualquer outro tipo, na maioria das vezes também é causado pela embriaguês, nas festas, nos fins de semana, principalmente. Os gastos com estes acidentados, vítimas do “trânsito alcoolizado” e/ou de armas manejadas “etilicamente”, são enormes por parte dos Governos dos três poderes, com utilização da rede hospitalar autorizada pelo SUS com custos bastante elevados com profissionais da Saúde e medicamento, etc.
Logo, aqueles Poderes deveriam olhar com mais carinho esta INSTITUIÇÂO, Alcoólicos Anônimos, pois ela é o antídoto para muitas daquelas mazelas de fins de semana. Quantas pessoas deixaram de provocar vítimas ou mesmo fazer parte da lista de sofrimentos destes acidentados, porque se conscientizaram através do AA de como devem se comportar no meio social?
Imagine, então, se a verba gasta para tanto sofrimento, fosse empregada naquela INSTITUIÇÃO, através da criação de Locais Apropriados ao difícil trabalho de recuperar vítimas do alcoolismo, como FAZENDAS com as devidas Infra-Estrutura apropriadas ao mister? É um caso a se pensar com carinho e ousadia. Seguindo o modelo da AA, muitas outras Associações já foram criadas pelo Mundo afora para recuperação de Gastadores Compulsivos, de viciados em jogos de azar, viciados em sexo, como foi o caso do Ator Michael Douglas, usuários de drogas pesadas, como Heroína, Morfina, Cocaína, “Crac” e diversos outros tipos de mazelas sociais.
Verificando o Símbolo da AA vi estampados, em seu desenho, o Sol que nos dá uma idéia de liberdade, de translucidez, e bem dentro do seu núcleo o triângulo com fundo azul, ladeado pelas palavras: UNIDADE SERVIÇO e RECUPERAÇÃO, mostrando-nos as etapas a serem seguidas em sua árdua, porém, bela empreitada e finalmente centralizando todo o simbolismo deste trabalho a sigla AA, que nos passa a idéia de sua Majestade.
Entretanto, ante o grandioso trabalho e empenho da Instituição na busca gloriosa e perene na salvação de inditosos do vício, achei que o simbolismo já está com uma representação aquém daquilo que a AA realmente expressa, nos dias de hoje! Por isso, entusiasticamente, tomei a liberdade de acrescentar o que sinto, a representação que vejo na hercúlea labuta em busca do melhor Àquele Ser Humano em decadência. Assim, utilizando as ferramentas que o PAINT nos oferece, na informática, e me aproveitando da bela Representação Simbólica atual, ousei criar um outro simbolismo, acrescentando ao já existente outra forma de expressão.
Ao invés do triângulo, superpondo outro ao já existente, idealizei um HEXAGRAMA acrescentando mais três palavras representativas, AMOR, ESPERANÇA e REALIDADE, conservando, entretanto, as três já existentes, UNIDADE, SERVIÇO e RECUPERAÇÃO, procurando expressar a evolução da ALCÓOLICOS ANÔNIMOS na atualidade.
O simbolismo UNIDADE nos dá conta de que, na verdade, há uma Instituição sem interesses comerciais composta de uma irmandade que quer levar o alento àquele que procura suas portas.
Fiz questão de colocar AMOR no topo do Hexagrama, uma vez que adentrado ao seio da Irmandade, o indivíduo vai encontrar ali aquilo que supunha não mais existir, o Carinho, o Afeto, palavras de ânimo, sentimentos vários de amor que irão inspirar no Iniciante a vontade máxima de se recuperar.
O próximo passo, SERVIÇO, simboliza o começo da luta através das palestras, da desinibição da pessoa, antes complexada perante o meio em que vivia, um dos sentimentos infames auto imposto pela crueldade da doença.
Sentindo-se tratado como um Ser humano naquele meio amigável, voltam-lhe a ESPERANÇA de um dia voltar ao convívio dos Seus, de fazer parte com orgulho de uma Sociedade que o verá com admiração e com respeito.
O processo, então, de RECUPERAÇÃO é sentido e todas as suas forças são testadas, toda sua Fortaleza começa a dar mostra que Ele, indivíduo, já tem vontade própria, começa a domar seus sentimentos, vislumbrando aqueles que lhe podem ser maléficos e extirpá-los de dentro de Si.
Finalmente, a glória total, sua luta foi coroada de êxito, a REALIDADE do sonho tão almejado foi alcançada. Ele está pronto para retornar com muitos louros ao seio de seu querido Lar, ao convívio da Sociedade e como filho pródigo Ele retorna glorioso aos braços de seus familiares, de seus amigos, agora mais cônscio da responsabilidade adquirida naquela Irmandade que lhe acolheu de braços abertos proporcionando-lhe todo este seu Renascimento.
Parabéns e Obrigado ALCÓOLICOS ANÕNIMOS pela majestosa Obra que Vocês desempenham no seio das Nações espalhadas pelo mundo afora
JESUS FONSECA: Escritor, Colunista Cultural e Social

SE VOCÊ,
Já foi um “pão” e conheceu um “broto”.
Teve um anel “brucutu”.
Foi a um baile de “garagem” com luz negra.
Usou um “Vulcabrás” ou “Passo Doble”.
Teve uma “Sharp”, “Telefunken”, “Colorado RQ”, ou “Philips”.
Teve um jogo de botão de galalite.
Teve um toca-fitas Roadstar ou TKR cara preta.
Sabe quem foi Teixeirinha e Valdick Soriano.
Cantava “Only Youuuu”.
Curtia “National Kid” e “Ultraman”.
Assistiu aos “Reis do IÉ, IÉ, IÉ”.
Teve uma blusa cacharrel de gola rolê.
Usou perfume “Lancaster”, “Azzaro” e brilhantina Glostora.
Dirigiu Fusca, Chevette, Brasília, TL Corcel, Opala, SP2, Karmanghia ou Maverick.
Sabe quem foi Denner, Clodovil, Blota Jr. , J Silvestre, Chacrinha e Flavio Cavalcanti.
Assistiu Wilson Simonal e Jair Rodrigues na TV.
Assistia Ted Boy Marino no tele Catch.
Assistiu a seleção ao vivo na Copa de 70.
Leu “Intervalo”, “Cruzeiro”, “Manchete”, “Realidade” e “Seleções”.
Sabe o que é matiné.
Assistiu filmes de Roy Rogers, Durango Kid, Flash Gordon e o seriado de Fumanchu no cinema.
Curtiu o seriado de “Zorro e Tonto”, “Bat Masterson” “Ivanhoe” e “Daniel Boone”.
Viu “Perdidos no Espaço”, “Túnel do Tempo” e “Terra de Gigantes”.
Adorava “Rin Tin Tin” e o “Lobo” do “Vigilante Rodoviário”.
Gostava de “Jonny Quest”, “Speed Racer” e “Tin Tin”.
Não perdia um capítulo de “O Bem Amado”.
Viu sua mãe usar “Rinso”.
Mascou chicletes “Adams” e “Ping Pong”.
Curtia as músicas de “Tom Jones”.
Viveu a febre dos jeans “Lee” e “Levi’s”.
Torceu nos festivais de MPB da Record ou assistia à “Jovem Guarda”.
Ouviu os cantores Altemar Dutra e Nelson Gonçalves.
Usou calça “boca de sino” e “paletó com ombreira”.
Viu, ao vivo, o homem pisar na lua.
Brincou descalço na rua, de “amarelinha”, “esconde-esconde”, “polícia e ladrão” e “queimada”.
Jogou com bola de meia e capotão.
Desceu ladeira abaixo com carrinho de rolimã.
Fez compras na Sloper, Mesbla, Bemoreira e nas Lojas Brasileiras.
Andou de Jeep kandango, Rural Willys, Vemaguet ou Gordini.
Andou de bonde.
Usou conga, bamba ou “Kichute”.
Trocou gibis na frente do cinema.
Saboreou Drops Dulcora, Pirulito Zorro e Ki-Bamba, a combinação perfeita de chocolate e mashmelow.
Tomou Grapette, Crush e Miranda.
Assistia o canal 100.
Andou de Simca Chambord, Aero Willys e Impala hidramático.
Conheceu o caminhão Fenemê e Studbaker.
Fez tanque de cimento para criar peixes.
Limpou terreno baldio para jogar bola.
Destopou a unha do dedão jogando bola em terreno baldio.
Tomou Biotonico Fontoura e Emulsão Scott.
Bebeu Cuba Libre.
Usou calça Topeka e US Top.
Comeu quebra queixo.
Tomou sorvete daquelas máquinas com frascos de vidro.
Então, meu amigo com certeza você foi muito feliz.
Autor Jesus Soares da Fonseca
O ALCOOLISMO EM ITAPORANGA-PB – Autor Jesus Soares da Fonseca
Itaporanga, como diversas cidades espalhadas pelo interior do Brasil, tempos atrás, era bastante atrasada e não oferecia, à grande parte da população, alguma condição de emprego, de meio de vida, notadamente aos jovens que entravam na fase adulta sem nenhuma perspectiva de vida.
Assim, muito cedo ainda, o jovem se entregava ao vício alcoólico, uma espécie de fuga ao ócio, através da cachaça. Não se falava, ainda, por aquelas bandas das atuais drogas pesadas, como cocaína, heroína, ópio, etc, era na base da aguardente de cana.
Amadeu Coringa, jovem ainda nos seus 15 anos, morador de periferia, pobre e negro, percebeu que para sobreviver era necessário procurar trabalho, seja o que fosse. Então, conseguiu trabalhar como garçom numa sorveteria, aquela mais frequentada pela classe média mais abastada da cidade. Humilde, logo angariou a simpatia de muita gente e, pela sua disposição no trabalho, do dono do estabelecimento.
Aos 18 anos tinha conseguido amealhar algum dinheiro e resolveu entrar para o ramo dos negócios. Para tanto, arranjou um quarto situado quase que no inicio da Avenida Getúlio Vargas, localizado entre o prédio da Sinuca de Ananias Conserva e o Estúdio da Difusora Voz de Itaporanga.
Ali, ele abasteceu seu Negócio, em pequena quantidade, com frutas diversas, arroz, açúcar, feijão, sabão, sal, etc. Fez algumas prateleiras e nelas colocou bebidas diversas, refrigerantes e, sabedor que muita gente gostava de tomar algum aperitivo para o almoço, algumas garrafas de aguardente de cana da marca caranguejo muito apreciada na região. Seu estabelecimento recebeu o nome de Cova da Onça, titulo que viria a servir como seu sobrenome, pelo qual ficou conhecido: Amadeu Cova da Onça.
Irei fazer um hiato aqui na minha narrativa, visando mostrar alguns “habitantes” do mundo do álcool, residentes na cidade.
Apesar da gama muito alta de alcóolatras que pululavam na nossa Comuna, pretendo destacar alguns que por serem bastante espirituosos, angariavam a simpatia de grande parte da população.
Antônio de Maráca, rapaz de seus 20 e poucos anos, inofensivo por natureza gozava da simpatia do itaporanguense, talvez até, por compaixão. Sóbrio, o que acontecia poucas horas do dia, tinha dificuldade em se expressar, era gago de nascença.
No estado etílico, então, para abrir conversa, pronunciar alguma palavra, era penoso vê-lo falar. Abria e fechava os olhos, descompassadamente, olhando para um ponto vago, enchia o espaço ao seu redor de muita saliva, tamanha era a dificuldade em se expressar – “diz…diz…dizem que sou ca…ca…caneiro, eu be..be…bebo porque Deus de…. de…deixa”. Pobre Maráca, faleceu, como muitos, de coma alcóolica.
Nonato de Bíu, inofensivo, engraçado, era outro que gozava da estima de seus conterrâneos. Todo trocado que se lhe davam, tinha um destino certo, um copo de cachaça. Trabalhei sete anos na cidade, pelo Banco do Nordeste, jamais vi Nonato sóbrio.
Quase que diariamente, quando me dirigia ao trabalho, lá estava Nonato, que ao me avistar falava: “o doutor bancário vai me dar um dos seus cigarros e não pode dizer que não tem, é um bancário e tem dinheiro para comprar os cigarros todos de Itaporanga”.
Eu ria, com a sua ladainha para arranjar um cigarro e lhe concedia um, para seu deleite. Ele me agradecia dizendo: “Deus vai lhe recompensar com muitos maços de cigarro, Deus é bom!”. Eu respondia: “mas, Deus não fuma, Nonato!”. “O senhor é que pensa, Ele tem uma fábrica de cigarro”. E saia cambaleante, alegre e satisfeito! Também, como quase todos de sua linhagem, partiu ainda jovem para Eternidade. Que Deus o tenha na Glória!
Maria Mulungu era uma mulher negra, pobre, morava no final da Rua 5 de Agosto, esquina com a Rua Cleto Campelo numa mísera casa de taipa com apenas um cômodo que servia de cozinha e dormitório. Num dos cantos da sala uma cama improvisada com um colchão de palha. Na outra extremidade, um fogãozinho construído com oito ou dez tijolos, onde Ela, numa pequena panela de barro, cozinhava arroz e, posteriormente, feijão, quando tinha.
Na parte traseira da casa, havia um terreno de, mais ou menos, três metros quadrados, coberto de mata-pasto e mufumo formando um pequeno monturo. Ali, ela fazia suas necessidades de excreção.
Na cidade não havia ainda saneamento, o abastecimento do precioso líquido era feito por carregadores d’água através de jumentos ou por mulheres equilibrando na cabeça uma lata d’água de 20 litros, proveniente das cacimbas localizadas no leito do Rio Piancó.
Maria Mulungu era uma dessas profissionais. Acordava muito cedo para o trabalho, muitas vezes no jejum e na ressaca, pois era alcóolatra, coitada, que buscava na cachaça, forças para o extenuante ofício.
Sua sorte é que suas freguesas eram pessoas de bom coração e a ajudavam como podiam, dando-lhe refeição e outros mantimentos.
Um dia, os vizinhos ouviram seus gemidos alucinantes e trataram de socorrê-la. Levaram-na ao médico que diagnosticou cirrose hepática em grau avançado. Vendo sua penúria, concedeu-lhe muitos medicamentos e lhe fez alerta de que ela não poderia tomar nenhum tipo de bebida alcóolica.
Com a ajuda de ‘almas’ caridosas conseguiu vencer o álcool e foi aos poucos se recuperando. Para alegria de muitos que a ajudavam, viram-na sóbria por meses.
Entretanto, seu fígado tinha sido bombardeado, danificado durante anos pela bebida. É sabido que o fígado metaboliza o álcool e sendo exposto a dosagens excessivas sobrecarrega-se causando danos irreversíveis. E Maria Mulungu, quase um ano depois de ter deixado o fatídico vício, partiu desta vida sem eira e sem beira como fala o jargão popular, foi descansar junto ao Orbe Divino. Que Deus lhe tenha na Glória!
Poderia citar vários outros ‘bebuns’, entretanto me atenho aos mais engraçados, os mais espirituosos.
Otávio Garapa era o filósofo deles todos, gostava de contar piadas e criticar seus colegas, com ditos jocosos: “não sei por que eles bebem”! Se alguém lhe perguntava: “e tu, Otávio, não bebes, também? Eu, não! Eu como com farinha”. Era alto, magro, nunca o vi sorrindo, mas também, não fazia cara feia. Seu pai, Severino Garapa confeccionava chapéus de massa em seu ateliê situado na Avenida Getúlio Vargas, quase em frente à loja de Gabila, loja esta, mais tarde de propriedade de Manoel Virgulino. Seus produtos, feitos durante a semana, eram vendidos aos sábados, dia da feira local ou por encomenda, era o seu ganha-pão, para sustento da Família.
Sua preocupação maior era, justamente, a bebedeira de seu filho mais velho, Otávio. Mais adianta, nessa narrativa, iremos falar de sua relação com o seu Filho.
Voltemos, pois, a falar sobre Amadeu Cova da Onça.
O negócio de Amadeu ia de vento em popa, como se diz no jargão popular, apesar do constante assédio da turma do álcool para usufruir de suas bebidas.
O destino muitas vezes costuma pregar peça no nosso cotidiano. Foi o que aconteceu com Amadeu. Certa vez amanheceu com uma bruta dor de dente. Aconselharam-no a ir ao dentista local, Dr. João Costa ou a um rapaz que fazia às vezes de odontólogo, Ponche, mais conhecido como doutor Ponche. Entretanto, o medo, o pavor não o deixava ir a nenhum dos dois.
Os vivaldinos alcóolatras não perderam a oportunidade, sugeriram-no a tomar um gole de cachaça e sacolejar a aguardente na boca. Foi o que Ele fez. Pelo efeito do álcool, a dor diminuiu um pouco. Mais um trago e faça a mesma coisa, sugeriu outro. Assim de gole em gole, o desditado Amadeu se embriagou e caiu no sono.
Era o que queria os cachaceiros de plantão, tomaram conta do pequeno estabelecimento, Cova da Onça, e passaram a noite numa farra desenfreada.
Amanheceu o dia e, Amadeu numa tremenda ressaca, não tinha coragem de se levantar. Falaram para Ele tomar uma lapada de cana, para ter força de se levantar. A cantilena se repetiu e a partir dali Ele tornou-se um alcóolico. Segundo a Medicina, há indivíduos que nascem com predisposição genética para se tornar um dependente do álcool. Quiçá tenha sido este o caso do desventurado Amadeu.
Ao tomar o primeiro gole não soube mais se controlar. Tempos mais tarde, foi levado ao hospital com coma alcóolica, pela segunda vez. Feitos os devidos tratamentos, o Médico lhe advertiu: – você não pode mais por na boca nem um gole de bebida alcóolica, caso contrário será fatal, será o seu fim!
Edilásio Felinto montou um bar na Rua João Severino, ao lado da bodega de Manoel Virgolino, quase em frente à padaria de ‘Seu” Pedrinho. Vendo a penúria de Amadeu, passando necessidades, resolveu emprega-lo em seu negócio. Por semanas afio tudo ia as mil maravilhas, Amadeu correspondendo as expectativas, embora sofrendo muito para se controlar do vício. Tinha constantes delírium tremens quando se recolhia para dormir.
Certo dia, quando exercia suas funções de garçom no bar, ao abrir a porta da geladeira, soltou um horripilante grito, bradando: “ tira, tira, tira daqui, eles querem me pegar…”
Era uma fase aguda do delirium e ele não suportou, tomou um gole de aguardente e mais um e mais um. Entrou em coma novamente e desta feita não chegou sequer ao hospital, morreu a caminho, aos 28 anos de idade.
Com a morte de Amadeu, Severino Garapa chamou o seu filho Otávio para alertá-lo dos efeitos do álcool: “meu filho deixe este vício, venha trabalhar comigo, vou lhe ensinar o meu ofício”. Porém Otávio era irredutível e sempre arranjava uma desculpa com aquele seu ar bonachão. Seu pai não desistia: “meu filho, deixe de beber, deixando de beber você vai virar um homem”. Otávio com seu jeito sarcástico respondeu: “ Pai, Maria Munlugu deixou de beber e nunca virou homem”.
C O L U N I S T A
JESUS SOARES da FONSECA.
Quem é Jesus Fonseca?
Jesus Fonseca é natural de Itaporanga (PB).
Escritor e Colunista de vários Sites e Blogs.
Graduação em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará.
Operador de Computador, Programador de Sistema, Analista de Sistema e Ex-Coordenador do Sistema de Contas Correntes do BNB – Direção Geral – Fortaleza – CE.
ADMIRÁVEL LELÊ!
Autoria: JESUS SOARES DA FONSECA
Ao Amigo Osmundo, Querido Lelê, Grande Artista Pequenin!
Eu ainda era uma criança nos seus 9 a 10 anos de idade, alheia, portanto as vicissitudes da vida naquele alto sertão nordestino e achava engraçado ou divertido, em determinadas ocasiões, quando um pedinte, alcançado o seu desejo, o fruto de seu pedido, respondia agradecendo a minha mãe: “Deus te livre do mau vizinho!”.
Realmente, aquele tipo de agradecimento não fazia sentido para mim, razão de eu o achar muito engraçado e, até, sem nexo, embora não soubesse explicar tal sentimento, na época. A razão de tudo isso era muito simples! Eu pensava não existir a figura do mau vizinho, exatamente porque nossos vizinhos eram as criaturas mais dóceis, mais educadas, mais amigas, que já tínhamos encontrado, que tivemos a sorte de tê-las como vizinhos.
“Seu” Firmino Alvarenga e Dona Emília com sua prole eram estas criaturas. Para se ter idéia da sincera e pura amizade que havia entre as duas famílias, a deles e a nossa, o muro, que servia de fronteira entra as duas casas, tinha de altura, quando muito, um metro, aproximadamente.
Ali, minha mãe e Dona Emília costumavam, nas horas de folga do lazer doméstico, trocar suas idéias a respeito das coisas naturais da vida. Falavam de religião, não em dogmas, em teologia, em filosofia, mas nos temas corriqueiros de como se deve criar um filho nos caminhos de Deus.
Batiam papo sobre a educação dos filhos, sobre a medicina caseira, os chás que serviam “para isto ou para aquilo”, etc. Jamais ouvi rolar naquelas conversas algo em torno da vida alheia, sobre o bem ou sobre o mal. No meio deste enorme elo de amizade girávamos nós, os filhos que dividiam e fortificavam a amizade através das brincadeiras de criança.
Assim, aprendi a conhecer e admirar Osmundo, carinhosamente chamado de LELÊ. Ele, com 1,38 mts, tinha mais de dois metros de altura de talento. Tudo que se propunha a fazer, conseguia, como uma eficiência impressionante. Era um artífice de primeira mão. Construía seus próprios brinquedos com uma perfeição, eu diria, “doentia”, se é que assim posso me expressar.
Era um perfeccionista nato! Cansei de vê-lo aperfeiçoando um brinquedo que a meus olhos já era uma obra prima. Os piões que ele fabricava eram invejados por muitos! Seus Caminhozinhos eram confeccionados nos mínimos detalhes! Com o decorrer do tempo tornou-se um exímio marceneiro, construindo, com idêntica habilidade, seus próprios móveis.
Era inteligente por natureza! Jamais, eu e meus irmãos, tivemos qualquer atrito ou discussão, mesmo aquela entre crianças, com nosso grande amigo LELÊ, pois o respeito era recíproco e mútuo entra as duas famílias!
Mas a roda da vida sempre com seus giros intermináveis, vai, gradativamente, colocando-nos em caminhos adversos, separando, fisicamente, um elo de amizade, todavia, sem destruí-lo, espiritualmente.
Assim, na fase adulta, todos nós fomos, cada qual, para o seu lado, cada um, para o seu canto. Entretanto, faço este registro com muito orgulho: Toda vez que visitávamos Itaporanga, íamos dar o abraço no bom amigo Osmundo, momento em que nos emocionávamos relembrando os bons tempos de vizinhança. A natureza não lhe fora pródiga, continuava com 1,38mts de altura.
Foi numa destas visitas que descobri que o gênio Osmundo era, também, alfaiate e sapateiro. LELÊ era o confeccionador de suas próprias vestimentas. Que coisa maravilhosa!
Tempos mais tarde, soube que LELÊ enveredou-se por caminhos mais altos! Foi lá para a Mansão do Criador para mostrar-Lhe que o dom que havia recebido fora exercido com maestria. Ficamos nós, na saudade, e nesta historia quem saiu ganhando foi Deus que recebeu em suas hostes, um Ser Humano de Primeira Grandeza.
Seja Feliz, meu Grande Amigo, nas Bem-aventuranças Eternas.